Sempre é oportuno discutir a questão dos Direitos Humanos.
Numa primeira apreciação, a realidade nos diversos Estados brasileiros
tem similitude. Entretanto, aprofundando a análise, percebe-se que as
questões cruciais não são exatamente as mesmas em toda parte.
Ocorrem contradições no Espírito Santo, em matéria de Direitos Humanos.
De um lado temos uma realidade que deve ser denunciada; de outro, testemunhamos uma luta que deve ser celebrada.
Essa realidade que deve ser denunciada tem duas faces.
A primeira face é aquela realidade social negativa que está presente,
lamentavelmente, em todo o país: crianças nas ruas, deterioração do
ensino público, condições precárias de saúde atingindo grande parte da
população, sistema carcerário destruidor da pessoa humana, fome,
desigualdade gritante e escandalosa.
A segunda face é aquela, também presente no Brasil em geral, mas que tem
tido, em nosso Estado, cores que não nos honram. Essa segunda face pode
ser resumida numa frase: violência dramaticamente revelada pelas altas
taxas de homicídio.
Segundo dados coletados pelo Ministério da Justiça e tabulados pela
Folha de São Paulo, o Espírito Santo foi o segundo Estado mais violento
do país tomando-se como medida da violência o número de assassinatos por
grupo de 100 mil habitantes (56,6). Em primeiro lugar, situou-se o
Estado de Alagoas (66,2).
Um Estado que, por suas riquezas e dimensão reduzida, poderia equacionar
seus problemas, dentro de um modelo sócio-econômico com credenciais
para servir de paradigma, longe está de cumprir esse destino
alvissareiro. Reagiu ao poder diabólico do crime organizado mas ainda
não se libertou totalmente desse estigma.
Se esses traços tão tristes de negação dos Direitos Humanos devem ser
apontados e condenados, há uma réplica a essas negações, que deve ser
celebrada.
Refiro-me à atuação da sociedade civil organizada, contra a violência,
contra a corrupção, contra toda forma de desrespeito à sagrada condição
humana. Essa presença da sociedade civil não tem sido apenas uma
presença de vigilância cívica e de enfrentamento heróico em face das
forças sociais deletérias.
Nossa sociedade civil organizada tem tido também uma ação afirmativa,
tão construtiva quanto a ação de denúncia porque restauradora da fé nos
destinos do povo.
Contam-se às centenas as organizações da sociedade civil endereçadas à dignificação da pessoa humana.
Quase sempre o trabalho das associações e respectivos voluntários é um
trabalho anônimo, feito com o pudor dos humildes, com a generosidade dos
que se doam, com a grandeza dos que confiam e sonham. Assim a luta
diuturna de milhares de cidadãos não aparece na imprensa porque a mão
direita esconde da mão esquerda o Bem que faz.
Devemos celebrar o que tem sido feito e confiar em que a luta coletiva
poderá superar os desafios de hoje. Luta coletiva porque “uma andorinha
só não faz Verão”.
Perfil
João Baptista Herkenhoff, magistrado aposentado, Supervisor da
Coordenação Pedagógica na Faculdade Estácio de Sá do Espírito Santo.
Entre em Contato:
E-mail: jbherkenhoff@uol.com.br Homepage: www.jbherkenhoff.com.br Autor,
dentre outros livros, de: Curso de Direitos Humanos (Editora Santuário,
Aparecida, SP).
Fonte: João Baptista Herkenhoff
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